No pique, Roberto Avallone
Profissionalmente havia dois Roberto Avalone. Ambos bem diferentes. eia para conhecer estas duas facetas.
por EDGARD SOARES - São Paulo
Profissionalmente havia dois Roberto Avallone.
Ambos bem diferentes.
O primeiro foi o repórter arguto e bom texto. Alguém que tinha nascido para ser jornalista.
Por exemplo: começar, como ele, a carreira no Última Hora-SP, "um jornal vibrante, uma arma do povo" já era prova de qualidade. Ninguém escreveria ali se não tivesse ao menos um bom potencial.

VITÓRIA SEM PRECEDENTES
Foi uma vitória empresarial em um país que nunca conseguiu ter um jornal nacional até hoje. E é claro que falo da era pré-internet.
Nem mesmo os Diários Associados conseguiram. Embora o grupo tivesse a um só tempo 17 jornais em quase o mesmo número de estados, não era um jornal linear, uma só edição,
um só enfoque editorial.
Cada capital tinha seu próprio título (Diário de São Paulo e Diário da Noite em São Paulo; O Jornal, no Rio de Janeiro e Estado de Minas, em Belo Horizonte, os mais importantes).
Pois é, Avalone engatinhou e deu os primeiros passos profissionais na UH, SP, que ficava na região do Vale do Anhangabaú, em pleno centrão da cidade.
Atento repórter e querendo sempre trabalhar no melhor veiculo, em pouco tempo passou para o Jornal da Tarde em 1966, ano de sua implantação.
Ali fez ótimas reportagens e depois de alguns anos, passou a ter a sua própria coluna.
Entre uma fase e outra trabalhou um mês e meio na Folha da Tarde, participando dos números experimentais do jornal que nascia para concorrer com o Jornal da Tarde.
Foi neste tempo que eu o conheci mais de perto e convivemos diariamente.
As vésperas do lançamento da Folha da Tarde, Avallone foi chamado pelo Jornal da Tarde, que lhe ofereceu um bom aumento de salário e ele voltou para o ninho antigo.
Algum tempo depois, surgiu a televisão em sua vida. Ele manteve os dois empregos por um breve período, mas depois hipnotizado pelo veiculo eletrônico passou-se de mala e cuia para a TV Gazeta.
POLÊMICO E CONHECIDO
E goste-se mais ou menos deste Roberto Avallone televisivo, duas coisas são incontestáveis: ele tornou-se um jornalista esportivo conhecido do grande público, coisa que não aconteceria se
continuasse no jornal impresso; e, inegavelmente, criou um personagem que passou a fazer parte do mundo da bola. Principalmente no estado de São Paulo.
Interessante que o Avallone da TV foi bem diferente do Avallone das redações. Nestas, ele era um profissional nada expansivo e, acredite, não retraído, mas com certeza reservado.
Quem o conheceu jamais como repórter de jornal, não poderia supor que ele se transformasse naquele apresentador cheio de bordões e de afirmações fortes, que lhe renderam algumas
discussões, inclusive ao vivo.
O que é inegável, porém, é que ele aconteceu na telinha.

Mostrou também uma outra faceta: a de ter um pavio curto e não dispensar polêmica.
MEMÓRIA PRODIGIOSA
Igualmente mostrou ter uma memória prodigiosa para assuntos de futebol, naturalmente, e mais especificamente, sobre o Palestra, como muitas vezes ele se referia ao Palmeiras, que já existia desde 1942, seis anos antes de ele nascer.
Foram mais de duas décadas na mesma emissora. E ele ainda passou pela Rede TV!, onde estava muito bem e seguro quando estava no ar e de onde saiu para a TV Bandeirantes, onde ficou pouco tempo.
O fato é que a Mesa Redonda da TV Gazeta nunca mais foi a mesma, sem ele.
Fora da TV, Avallone não deixou a mídia eletrônica, tendo feito sucesso na Rádio Bandeirantes, principalmente, mas passando, entre outras, pela Capital e Band News.
Antenado aderiu à Internet e teve um blog no UOL, o maior Portal de notícias do Brasil, lembrando sempre aos nossos caros leitores que o Futebol Interior é também o maior Portal do
pais, especificamente no futebol.

PAIXÃO: PALMEIRAS
Apaixonado pelo Palmeiras, coisa que ele só tornou público quando foi para a TV, Avallone não se continha e quando discordava de alguma contratação ou da forma de jogar do time verde,
dava broncas homéricas em treinadores e dirigentes. No ar e ao vivo.
Fazia parte dele. Era um palestrino autêntico ao lado do grande repórter que foi e do apresentador de TV diferenciado.
Encontrei-me com ele pela última vez há dois anos, na Galeria dos Pães, da Rua Estados Unidos. Ele saboreava um dos sanduíches típicos da casa. Sentamos à mesa e recordamos nossos tempos de juventude e, como sempre acontece com amigos tão antigos, devemos com certeza ter ficado horas naquelas recordações.
Quando finalmente entrei em meu carro para ir embora, a sensação que tive é que não tínhamos falado mais do que cinco minutos.
Avallone era ótimo contador de histórias. E me portei como um telespectador da Mesa Redonda ao ouvi-lo.

Edgard Soares é jornalista e publicitário. Aos 17 anos já fazia parte da famosa Equipe 1040 da Rádio e TV Tupi e repórter da Folha de São Paulo, onde chegou a Editor de Esportes da Folha da Tarde. Criou e apresentou o programa de tv, "Estação Futebol". Em publicidade foi diretor de algumas das m